Falar em materialização de objetos e de seres extrafísicos – ou, num linguajar mais comum, em materialização de espíritos – é entrar
num terreno polêmico. Estaremos sujeitos a ataques prepotentes, sarcásticos, daqueles que se acham cultos, intelectuais superiores,
donos de um saber racional absoluto. Ou mesmo sofreremos crítica e rejeição dos que preferem encarar essa fenomenologia como invenção de mistificadores ou produto de mentes imaginativas de pessoas que vivem para ser enganadas em sua boa-fé.
No entanto, a despeito dos desinformados, sim, existem fenômenos de materialização – cabendo àqueles de mente aberta investigarem
como ocorrem e por quê.
A boa ciência, aquela que jamais chega a um ponto definitivo, a um conhecimento total, abrangente, sempre se coloca questões novas e filosóficas a respeito de seus objetos de estudo. Por isso, a ciência dialética – inclusive a materialista – deve procurar sempre se renovar, avançar em busca do desconhecido, estabelecendo novos parâmetros para a sua prática e discurso.
Infelizmente, a história está cheia de exemplos de cientistas que, colocando-se no campo revolucionário das ideias, foram perseguidos, execrados. Mesmo que depois – em vida ou não – tenham tido homenageados como homens do saber injustamente atacados pela incompreensão tola de sua época. Foi assim, por exemplo, com Sigmund Freud, fundador da psicanálise, quando, no início do século 20, se dedicou a divulgar os princípios daquilo que, mais tarde, seria reconhecido como boa ciência.
No caso das materializações espirituais e das curas mediúnicas, ocorrerá o mesmo. Chegará o tempo em que os incrédulos de hoje terão
a certeza da sua existência, força e até limitações. Não como algo milagroso, sobrenatural, vindo do além, mas uma experiência que apenas explica parte da complexa rede do eterno e universal desenvolvimento da energia e de sua eventual condensação em matéria.
Esse caminho do conhecimento vem sendo perseguido por incontáveis estudiosos em diversas partes do mundo. E não é de agora.
Discípulo de Louis Pasteur – célebre por descobrir o micróbio da raiva –, o médico francês Paul Gibier, falecido em 1900, foi um dos primeiros cientistas a estudar a fenomenologia das materializações.
Integrante da elite intelectual de sua época, acabaria perseguido por seus pares franceses, devido a suas ideias, sendo forçado a ir morar nos EUA. Mas, com suas qualidades profissionais, ali acabaria nomeado para o cargo de diretor do Instituto Pasteur de Nova York. Ao comentar o resultado de suas investigações e a polêmica que provocou na
comunidade científica francesa quando publicou, em 1886, o estudo Espiritismo ou Faquirismo Ocidental, Gibier assinalaria:
– Há somente duas classes de estudiosos da ciência: de um lado, os que buscam levantar a cúpula do edifício antes de estabelecer
solidamente os alicerces e pretendem interpretar a natureza antes de conhecer os elementos de suas leis; do outro lado, há os que avançam prudentemente, passo a passo, depois de se terem assegurado da consistência do terreno de que escavam conscientemente o solo para descobrir a rocha sobre a qual deverão assentar os fundamentos do conhecimento. Nós queremos pertencer a estes últimos.
Outro contemporâneo de Gibier a estudar esses fenômenos foi o químico e físico inglês William Crookes (1832-1919), considerado um dos grandes sábios de sua época na Inglaterra. Um dos fundadores da revista Chemical News, ficou famoso por suas pesquisas sobre raios catódicos e fenômenos radioativos. Descobridor do elemento químico tálio, em 1861, inventou o radiômetro (1874) e outros objetos para experiências físicas. Para variar, apesar de sua respeitada vida de cientista, foi atacado pela intelectualidade.
Corajoso, Crookes não só defendeu a veracidade das experiências de que participou com outros estudiosos de sua época, de materialização de uma mulher desencarnada que se identificou como Katie King, como ele próprio promoveu inúmeras sessões, em 1873, tirando fotos
de suas aparições. Essas experiências foram relatadas em seu livro Fatos Espíritas, sendo resumidas na publicação Materializações de
Espíritos (Editora Eco).
Embora, em geral, para se criar uma ambiência adequada, as sessões de materialização sejam realizadas no escuro, já que a claridade afeta o processo de integração atômica que ocorre nesses casos, em determinada reunião, a título de experiência, Katie consentiu em mostrar o que aconteceria com o aumento da luminosidade da sala. Ela, que só permitia que ficasse aceso um bico de gás, com a chama
baixa, concordou que se acendessem três bicos no volume máximo.
A entidade ficou então em pé junto a uma parede, abrindo os braços em cruz.
A seguir, o relato de um dos participantes, a pesquisadora e escritora Florence Marryat:
– Foi extraordinário o efeito produzido sobre Katie King, que apenas por um instante resistiu à claridade. Vimo-la em seguida fundir-se como uma boneca de cera junto de ardentes chamas. Primeiro, apagaram-se-lhe os traços fisionômicos, que não mais se distinguiam. Os olhos enterraram-se nas órbitas, o nariz desapareceu, a testa como que entrou pela cabeça. Depois, todos os membros cederam e o corpo inteiro se achatou qual um edifício que se desmorona. Nada mais restava do que a cabeça sobre o tapete e, por fim, um pouco de pano branco que também desapareceu, como se houvessem puxado subitamente. Conservamo-nos alguns momentos com os olhos fitos no lugar onde Katie deixara de ser vista. Terminou assim aquela memorável sessão.
Apesar de raras, as materializações à luz do dia também podem ocorrer, a exemplo do caso descrito pelo pesquisador italiano Ernesto
Bozzano, em Materializações de Espíritos, ao reproduzir o relatório da estudiosa Juliette-Alexandre Bisson apresentado no Congresso Metapsíquico de Copenhague, em 1922. Neste documento, ela resume suas experiências com a médium Eva Carrière, em sessão realizada em maio de 1921, com seis assistentes. Todos testemunharam, em plena luz do dia, a formação, na mão da médium de efeitos físicos, de um pequeno ser com cerca de 20 cm de altura. Segundo a ata da reunião, essa mulher
em miniatura chegou a passar para as mãos de um dos assistentes, que a descreveu como um corpo pesado e de tato “seco e suave”.
Ficção científica? Não. As materializações de seres desencarnados em formas minúsculas, embora menos comuns, já foram testemunhadas em diversos outros locais – até mesmo no Lar de Frei Luiz. Para Ernesto Bozzano, essas materializações se dão devido ao esgotamento das energias do médium de efeitos físicos ou quando ele não está fisiológica e psicologicamente bem disposto.
Para chegar a essa conclusão, ele tomou como base reuniões em que os seres aumentavam de tamanho – até chegar a uma estatura
normal – na medida em que os assistentes faziam exercícios de respiração profunda, ritmada, para ajudar a fornecer mais quantidade do fluido vital ectoplasma ao médium de efeitos físicos. A explicação faz
sentido. No caso de uma sessão sob a luz do dia, é de se esperar que o dispêndio de energia para as materializações sejam bem maior do que
em um ambiente escuro.
Apesar de diferenças de enfoques, esses e outros relatos servem para demonstrar como inúmeros pesquisadores investigam a questão,
seja no exterior ou no Brasil. Nos Estados Unidos, em Sedona, uma linda cidade do Arizona cercada por canions, são famosos seus pontos de grande concentração energética. Morador da região, que virou meca de seguidores da chamada Nova Era, o escritor e pesquisador Tom Dongo descreve experiências fascinantes de materializações de seres e de bolas de energia, no livro The Mysteries of Sedona (Hummingbird Publishing).
O escritor e jornalista Marcel Souto Maior, em seu livro As Vidas de Chico Xavier (Editora Rocco), relata que o mais famoso médium do
Brasil ficou deslumbrado com experiências do gênero, quando passou a colaborar, em 1948, em sessões de materializações conduzidas pelo
médium carioca Francisco Peixoto Lins, o Peixotinho. Numa dessas reuniões, o delegado de polícia R.A. Ranieri ficou tão impressionado
com a materialização de sua filha Heleninha, morta aos dois anos de idade, que escreveria mais tarde o livro Materializações Luminosas.
Alguns desses encontros foram inclusive fotografados.
De todas essas experiências, porém, fica-se com a impressão de que, na maioria das vezes, as reuniões de materialização são promovidas
somente a título de pesquisa e pela necessidade de se ter uma prova definitiva da existência de vida após a morte. Assim, não é à toa que as
sessões de cura promovidas por integrantes do Lar de Frei Luiz, desde os anos 1950, representem um importante diferencial.
Mas, mesmo com o objetivo básico de ajuda aos enfermos do físico e da alma, esse tipo de reunião serviu como uma luva para alguém
como Rocha Lima, com sua mente científica. A partir de suas experiências com dimensões astrais, muitas delas registradas em detalhes
– inclusive com fotografias –, ele e seu grupo acabaram nos legando um valioso manancial de informações sobre o tema.
Compilado por Márcio Varela
(Extraído do livro Os Médicos do Espaço: Luiz da Rocha Lima e o Lar de Frei Luiz / Ronie Lima. – 6ª edição)
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