Escrito por W.W. da Matta e Silva (YAPACANI)
É lamentável, mas temos de admitir que, apesar da Umbanda já ter atingido, nesses últimos anos, proporções colossais em seu movimento de expansão e penetração em todas as camadas so¬
ciais, ainda não deixou de ser um belo GIGANTE desmembrado, subdividido em sua maioria.
A falência quase que geral de uma crença firme nas religiões seculares, dogmáticas e bitoladas por regras de suas cúpulas e que não vinham respondendo aos anseios dos que têm fome de saber, e nem dos que se sentem fustigados pelo desespero e por males diversos, levou o povo de todas as classes a procurar nos terreiros, o tipo de socorro que não achou nelas. Compreenda-se... Os tempos são outros. A competição tornou-se duríssima, apelando para “armas” diversas... Os males cresceram mais ainda e foram se mascarando de formas diversas...
Em conseqüência os terreiros foram se multiplicando e os crentes, adeptos e simpatizantes foram atingindo a casa dos milhões e seria como ainda é, tarefa impossível, no momento, frenar e conduzir todos esses núcleos a um centro direcional, duma base religiosa, de vez que surgiram por ações espontâneas e independentes...
Nessa atualidade a Umbanda do Brasil conta com cerca de 150 mil Terreiros e estima-se com segurança em quase 30 milhões o número de seus adeptos.
Esse colosso Umbandista, ou tudo que se enfeixa nele, como cultos afro-brasileiros, revela seu potencial místico, religioso e ritualístico num panorama ciclópico, nas praias, nas cachoeiras, nas matas e nos festejos ditos de Cosme e Damião etc., quando seus Terreiros saem para festejá-los nos dias que lhes são consagrados...
Conta ainda com dezenas de Confederações, Uniões, Federações, Ligas, Alianças, Cruzadas etc., e tem um órgão de Cúpula Maior, dito como Conselho Nacional Deliberativo da Umbanda (C.O.N.D.U.), assim reconhecido porque já associa 34 Federações. Além disso tem vários Programas de Rádio, Revistas e Jornais por todo Brasil.
Esse órgão de Cúpula — o C.O.N.D.U. — vem mantendo um enorme trabalho, no intuito de unificar cada vez mais essas Federações, a fim de assumirem diretrizes que possam beneficiar o meio umbandista e particularmente a sua retaguarda que é maioria.
Claro que existe essa retaguarda, cheia de animismo, de crenças, crendices e superstições, calcadas nas fantasias do mito ou das lendas... claro também que já existe uma vanguarda evoluída, que estuda, pesquisa e tenta por todos os meios, de conceituar o verdadeiro lado dessa Umbanda de todos nós...
Essa VANGUARDA é o resultado dos frutos ou das sementes lançadas por selecionados PIONEIROS de Luz do Astral quando se fez imperioso essa atitude em face de um estado caótico nos chamados meios dos cultos afro-brasileiros...
Aconteceu inegavelmente, dentro desse meio, uma tomada de posse da Corrente Ameríndia (nossa) como guardiã que é, do campo astral do Brasil, através de várias Entidades ditas como Caboclos, secundados pelos chamados de “Pretos-Velhos”, também radicados nesse citado campo astral.
Esse acontecimento já foi ressaltado por nós várias vezes e voltamos a lembrar porque foi um fato inconteste. Veja o leitor suas razões, também em “Lições de Umbanda (e quimbanda) na palavra de um preto-velho”; em “Umbanda do Brasil” e em “Umbanda de todos nós” etc...
Essa tomada de posse dos Caboclos fixou como eixo desse novo movimento o termo UMBANDA, em redor do qual tudo começou a girar... e a crescer.
A palavra Umbanda como Bandeira não surgiu absolutamente de dentro de nenhum grupamento de nação africana e nem nos rituais dos negros de origem Banto (congoleses, angolanos etc.) que linguajavam o Bundu ou o Quibundu, que praticavam nos arredores do antigo Rio de Janeiro, até os anos de 1900 e 1904. João do Rio (já citado) não registrou entre eles coisa alguma com os nomes de Umbanda e Quimbanda...
Nem tampouco existiu nada, entre as mais antigas babás de Candomblés ou daqueles tipos de mistura de rituais afros com pajelança, identificados como Tambor de Mina, Casa de Batuque, Xangôs do Nordeste, Catimbós etc., onde empregasse a palavra Umbanda significando coisa alguma. Nunca existiram também 600 Tendas de Umbanda, antes do advento do Caboclo das Sete Encruzilhadas, como pretendem “provar” modernos pesquisadores afeiçoados ao africanismo. Terreiros disso ou daquilo, é claro, já existiam, mas não de Umbanda, essa é a verdade...
Agora, a certa altura do crescimento de tantos terreiros, exclusivamente nessas áreas da atual Cidade do Rio de Janeiro e Niterói, por dentro de vários grupamentos ou terreiros, mais melhorados, foi que o termo Umbanda foi ressuscitado, isto é, infiltrado, revelado.
Isso é o que pretendemos provar, segundo nossa honestíssima pesquisa, sem sectarismos mesquinhos, a fim de manter a autenticidade histórica dos fatores e dos valores dessa Umbanda de fato e de direito...
Sempre tivemos uma tendência irrefreável, desde muito jovem, 16, 17 anos de idade, que nos impulsionava a ver as chamadas de “macumbas cariocas”. Claro que não estávamos ainda conscientizado do porquê de semelhantes impulsos (se bem que. desde os 9 anos de idade éramos acometido por fenômenos de ordem espírito-mediúnico e aos 16 anos já acontecia a manifestação espontânea de nosso “preto-velho”, que baixava num quarto onde morávamos, na Rua do Costa n 75, uma rua lateral esquerda da Light do Rio de Janeiro, e que era uma espécie de casarão enorme, tipo república na época).
Em 1934 tivemos contatos com um médium de nome Olímpio de Melo (oriundo de Magé (um mulato alto, magro) que praticava “a linha de Santo de Umbanda” há mais de 30 anos (portanto, desde 1904 mais ou menos) e que trabalhava com o Caboclo dito como Ogum de Lei, com um “preto-velho”, de nome Pai Fabrício e com um Exu de nome Rompe-Mato.
Em 1935 conhecemos também o velho Nicanor (com 61 anos de idade) num subúrbio da Linha Auxiliar denominado Costa Barros, que sempre afirmava orgulhosamente que, desde os 16 anos, já recebia o Caboclo Cobra-Coral e o Pai Jacob e que desde o princípio as suas sessões “era no girado da linha branca de Umbanda”, nas demandas e na caridade (portanto desde o ano de 1890, segundo suas afirmativas).
Em 1940 conhecemos um famoso “pai-de-santo” denominado Orlando Cobra-Coral (nome de sua Entidade de cabeça um Caboclo), também num subúrbio da Linha Auxiliar, em Belfort Roxo, que dizia praticar a “Umbanda branca”, já há 27 anos. Portanto desde 1913. Lamentavelmente esse “pai-de-santo” suicidou-se com um tiro no peito, deixando um bilhete, onde escreveu que assim procedia, “mas não era por força de pemba”. . . Entendam o sentido da frase os entendidos do santé... A Revista “O Cruzeiro”, por ocasião daquele evento, fez ampla reportagem a respeito. Isso em 1945.
Outras Entidades Caboclos e Pretos-Velhos surgiram quase que simultaneamente, em diversos terreiros mais afins ou limpos, através da mediunidade de uns e de outros médiuns selecionados pelo Astral Superior, como pontas-de-lança e logo começaram a falar de Umbanda...
Somente que, todos esses (e aqueles) primeiros Vanguardeiros que receberam a Tarefa ou a Missão de lançarem as primeiras sementes da Umbanda, a fim de que em dias futuros pudessem brotar, e seus frutos se transformassem num Sistema, numa Lei, numa Regra, numa Religião, não foram registrados oficiosamente, ou seja, não foram destacados pelos interessados que escreviam.
Dentre todos mereceram relevo especial, desde o princípio desses acontecimentos, 9 maravilhosas Entidades, principalmente o Caboclo CURUGUÇU e o Caboclo das SETE ENCRUZILHADAS, desde 1925, pela pena de um dos mais dignos e destemidos Umbandistas de todos os tempos, de nome LEAL DE SOUZA (já falecido, é claro) e sobre o qual teceremos comentários excepcionais.
Leal de Souza, poeta, jornalista e escritor, foi o primeiro umbandista que enfrentou a crítica mordaz, ostensiva e pública, em defesa da Umbanda do Brasil, ou seja, daquele movimento inicial preparado pelo Caboclo Curuguçu e assumido pelo Caboclo das Sete Eucruzilhadas, inegavelmente o primeiro marco oficial do surgimento da Umbanda, lá em Niterói...
Ele o fez numa época que era quase um crime de heresia se falar de tal assunto. Foi também o precursor de um ensaio de codificação, ou melhor, foi o primeiro que tentou definir, em diversos artigos, o que era a Umbanda ou o que viria a ser no futuro esse outro lado que já denominava de linha Branca de Umbanda. Dissemos que lá para os idos do ano de 1925 era heresia falar de tal coisa, porque para os fanáticos religiosos e espíritas sectaristas, tudo era apenas macumbas...
Pois bem! Leal de Souza, muito antes mesmo de 1925, já dava entrevistas a jornais, a revistas, tentando explicar, das razões e da finalidade de sua “linha de Umbanda Branca”. Ele registrava — sem talvez prever do valor que teria para a posteridade, e para a História dessa Umbanda, o nome da Entidade Espiritual precursora e mentora desse Movimento de Restauração ou de renovação que foi se transformando e se consolidando nesse gigante que é a Umbanda da atualidade.
Essa Entidade do Astral que Leal de Souza identificou, dava o nome de Caboclo CURUGUÇU (ou Curugussu na grafia alterada) e que nós afirmamos significar, no Nhengatu, o Grito do Guardião. Segundo Leal de Souza, o Caboclo Curuguçu foi quem trabalhou, preparando o advento da Entidade que veio a se identificar como o Caboclo das Sete Encruzilhadas, através do médium Zélio de Moraes.
Não podemos duvidar, nem de leve, desse registro, pois o valor, a dignidade e a sinceridade de sua fé umbandista foram postos a prova, não ontem e nem hoje; foi em 1925, época duríssima, de perseguições e preconceitos acintosos contra os Centros e Terreiros, pois se ainda em 1935, no Governo Getúlio Vargas, nós assistimos a perseguições, prisões e fecha-fecha de Centros e Terreiros, até de forma violenta (todos os velhos umbandistas devem se lembrar disso).
Dissemos também que Leal de Souza foi um ensaísta de uma espécie de Codificação, pois já naquele tempo ele tentava classificar (segundo o entendimento que tinha na época) as 7 Linhas da Umbanda Branca, sincretizada com Santos da Igreja Católica e ainda dissertava de sua Magia...
Isso pode ser comprovado no “Mundo Espírita”, um Jornal lá do Paraná, que o entrevistou, sob o título de “Espiritismo, Magia e as Sete Linhas da Umbanda”, do ano de 1925.
Nessa entrevista ele compôs as 7 Linhas assim:
OXALÁ (Nosso Senhor do Bonfim)
OGUM (São Jorge)
EUXOCE (São Sebastião)
SHANGÔ (São Jerônimo)
NHAN-SHAN (Santa Bárbara)
YEMANJÁ (Nossa Senhora da Conceição)
AS ALMAS
O seu prestígio e o seu conhecimento eram tidos em alta conta, pois que, ainda já no 19 Congresso Brasileiro de Espiritismo de Umbanda, realizado no ano de 1941, no Rio de Janeiro, essas mesmas Sete Linhas dele foram aprovadas.
Como vêem, foi um ensaio, uma tentativa, mais foi... Mas vamos transcrever parte essencial dessa entrevista citada, de 53 anos atrás, reproduzida e reafirmada em 1952 no “Jornal de Umbanda” (órgão da União Espírita de Umbanda) e ainda posteriormente transcrita no Noticiário “MACAIA”, de outubro de 1972, órgão Oficial do C.O.N.D.U. (Conselho Nacional Deliberativo da Umbanda), com sede provisória à Rua Sá Viana, 69, Grajaú. Eis a entrevista na íntegra:
Entrevista com LEAL DE SOUZA, publicada no “Jornal de UMBANDA” de outubro de 1952, com o título de UMBANDA — uma Religião típica do Brasil."Leal de Souza, poeta, escritor e Jornalista e um dos mais antigos umbandistas do Brasil. Dirige a Tenda N. S» da Conceição, considerada por José Alvares Pessoa, uma das Tendas mestras”.Diz Leal de Souza: — "A Linha Branca de Umbanda é realmente a Religião Nacional do Brasil, pois que, através dos seus ritos, os espíritos dos ancestrais, os pais da raça, orientam e conduzem a sua descendência. O precursor da Linha Branca o Caboclo Curugussu, que trabalhou até o advento do CABOCLO DAS SETE ENCRUZILHADAS (*) que a organizou, isto é, que foi incumbido, pelos guias superiores, que regem o nosso ciclo psiquico, de realizar na terra a concepção do Espaço. Esse espirito une a intransigência à doçura. Quando se apresentou pela primeira vez, em 15 de novembro de 1908, para iniciar a missão, mostrou-se como um velho de longa barba branca; vestia uma túnica alvejante, que tinha em letras luminosas a palavra CARIDADE. Depois, por longos anos, assumiu o aspecto de um caboclo vigoroso; hoje é uma claridade azul no ambiente das Tendas. A sua missão é, portanto, a de preparar espíritos encarnados e desencarnados que deverão atuar no espaço e na terra, na época futura em que ocorrerá um acontecimento da importância do advento de Jesus no mundo antigo. O CABOCLO DAS SETE ENCRUZILHADAS chama Umbanda os serviços de caridade, a demanda os trabalhos para neutralizar ou desfazer os da magia negra. A organização da Linha é um primor minucioso. Espanta a sabedoria dos espíritos que se apresentam como caboclos e pretos-velhos a que são tanto mais humilde e quanto mais elevados. Em geral, as pessoas que freqüentam as sessões, não as conhecem na plenitude da sua grandeza, porque tratam do seu caso pessoal, sem tempo para outras explanações. O CABOCLO DAS SETE ENCRUZILHADAS, que é dotado de rara eloquência, quando se manifesta em público, costuma adaptar a sua linguagem à compreensão das pessoas-menos cultas, que consideradas como sendo as mais necessitadas de conforto espiritual. Foi esse espírito que há vinte anos, conforme ficou apurado num inquérito policial, reproduziu o milagre do Divino Mestre, fazendo voltar à vida, uma moça cuja morte fora atestada pelos médicos. PAI ANTÔNIO, o principal auxiliar do Caboclo das Sete Encruzilhadas, e que baixa pelo mesmo aparelho, ZÉLIO DE MORAES, e que eu lá vi discutir medicina com os doutores. É o espírito mais poderoso do meu conhecimento. A seguir. Leal de Souza referiu-se a outras Entidades que baixaram em Tendas de Umbanda; na Tenda São Jerônimo, há entre outros, dois espíritos de grande poder e vasta ciência, que utilizam o mesmo aparelho, Anísio Bacinca; pai João da Costa do Ouro e o Caboclo da Lua. Este, quando saiu da minha Tenda para fundar a de Xangô, estava ditando a um oficial do Exército um livro sobre o "Império dos Inças". "O chefe do Terreiro da Tenda de Oxalá é pai Serafim e seus trabalhos têm produzido milagres; baixa por Paulo Lavoír, médium como não há muitos. Pai Elias, baixa pelo doutor Maurício Marques Lisboa, presidente da Tenda Filhos de Santa Bárbara. É velhíssimo e sapientíssimo. Segundo outros gulas, esse espírito numa de suas encarnações, foi Sumo Sacerdote da Babilônia e depois Papa, em Roma, para chegar como preto-velho no terreiro de Umbanda. Nota-se que pai Elias foi Sumo Sacerdote, mas o seu aparelho não é Sumo Sacerdote de Umbanda. O indivíduo que se envaidece desse titulo seria um doente de vaidade e morreria de ridículo... Catumbé, da Tenda São Miguel, baixa por Luiz Pires: é filósofo e alquimista. Pai Vicente, que baixa pela Sra. Corina da Silva, presidente da Tenda de Pedro, na Ilha do Governador, é um espirito de um saber profundo, que abrange a literatura, a filosofia de todos os tempos. Os seus trabalhos produzem efeitos miraculosos. Citei apenas alguns espíritos de meu conhecimento, pois como esses, os há em todas as Tendas. Não esqueçamos que o labor desses espíritos tem duas finalidades: atrair a criatura e ensiná-la a amar e a servir o próximo. Com a sua manifestação, pelo corpo dos médiuns, provam a imortalidade da alma e os benefícios que fazem, servem para elevar o beneficiário, pela meditação ao culto e ao amor ao Deus e, portanto, a prática de suas leis”.
E ainda: — Leal de Souza foi participante ativo e entusiasta, durante 10 anos, do Centro do Caboclo das Sete Encruzilhadas e amigo de seu médium, lá em Niterói, no bairro das Neves, dali somente se afastando, por ordem e em boa paz por ter sido designado por essa Entidade, de fundar outro Templo, o qual tomou o nome de Tenda Nossa Senhora da Conceição.
Portanto, Leal de Souza estava bem a cavaleiro e por dentro da Missão dessa magnífica Entidade Espiritual.
Leal de Souza jamais poderia ter inventado o Caboclo Curuguçu e muito menos falseado a verdade dos fatos, de vez que, principalmente, era um fervoroso do Caboclo das Sete Encruzilhadas. Ele só não se lembrou de deixar os detalhes por escrito, de como, por onde e através de quem esse Caboclo Curuguçu trabalhou preparando a descida do Sete Encruzilhadas...
Diante do exposto e da leitura de sua entrevista, ficou bem claro essa “entrevista-arquivo” de Leal de Souza. Antes dele ninguém havia dito nada sobre linha Branca de Umbanda etc. etc. etc... Todavia, existem certos setores umbandistas que pretendem dar particularidades especiais na história ou nas origens da Umbanda do Brasil, doutrinando que: — quem levantou o termo Umbanda pela primeira vez e “codificou” a dita Umbanda foi o Caboclo das Sete Encruzilhadas...
Sem pretendermos desmerecer o brilho do maravilhoso trabalho dessa Entidade, pois um dos principais Vanguardeiros incumbido de lançar as sementes e as primeiras diretrizes do que viria a ser Umbanda de fato e de direito, não achamos justo esquecer aqueles outros humildes e semi-anônimos pioneiros, quis também contribuíram, alhures, sem registro, para firmar as raízes dessa mesma Umbanda.
Mas, pelas linhas do direito, vamos contar como se deu o advento do Caboclo Sete Encruzilhadas versus Zélio de Moraes...
“Zélio Fernandino de Moraes, nascido no ano de 1891 (falecido em 4 de outubro de 1975), era fluminense e morava no Bairro das Neves, em Niterói, na Rua Floriano Peixoto n 30, junto com sua família, quando foi escolhido pelo astral superior para servir de veículo (médium) a uma certa Entidade Espiritual, que iria usá-lo durante muito tempo, dentro de determinada Missão... Esse médium foi muito bem selecionado para tal finalidade, de vez que, durante todos os anos que exerceu a sua mediunidade, foi de conduta exemplar.
Zélio de Moraes tinha apenas 17 anos de idade, quando começou a padecer de um estranho mal-estar físico e psíquico sem que os médicos da época pudessem defini-lo e curá-lo. A coisa vinha assim durante muito tempo, quando, de repente, sentiu-se completamente curado. Familiares estranharam e alguém sugeriu levá-lo a sessão da Federação Espírita, de Niterói, que, naquela época, era dirigida por José de Souza. Tinha Zélio precisamente 17 anos de idade.
naquela mesma noite do dia 15 de novembro de 1908, Zélio compareceu e foi chamado para sentar-se à mesa. Logo após a abertura dos trabalhos, aconteceu uma súbita e surpreendente manifestação de espíritos que se identificavam como índios ou caboclos (na Umbanda o termo caboclo é genérico: serve para qualificar todo e qualquer espírito que se apresente na roupagem fluídica de um índio) e de pretos-velhos escravos (que foram, é claro). O diretor da sessão achou aquilo tudo um absurdo e adver- tiu-os com certa aspereza para se retirarem. Estava caracterizado o racismo espirítico desde aquele instante até hoje...
Naquele instante dos acontecimentos, o jovem Zélio sentiu-se tomado e através dele um espírito falou: “porque repeliam a presença dos citados espíritos, se nem sequer se dignaram a ouvir suas mensagens?” Seria por causa de suas origens sociais e da cor? A essa admoestação da Entidade que estava com o médium Zélio, deu-se uma grande confusão, todos querendo se explicar, debaixo de acalorados debates doutrinários, porém, a Entidade re¬ voltada mantinha-se firme em seus pontos de vista. Nisso, um vidente pediu que a Entidade se identificasse, já que fora notado que ela irradiava uma luz positiva.
Ainda mediunizado, o médium Zélio respondeu — “se querem um nome, que seja este: — “sou o Caboclo das Sete Encruzilhadas, porque, para mim, não haverá caminhos fechados”. (Vide Nota especial na pág. 6.) E ainda, usando o médium, anunciou o tipo de Missão que trazia do Astral: fixar as bases de um Culto, no qual todos os espíritos de índios e pretos-velhos poderiam executar as determinações do plano espiritual, e que no dia seguinte (precisa¬ mente no dia 16 de novembro de 1908) desceria na residência do citado médium, às 20 horas, e fundaria um Templo, onde haveria igualdade para todos encarnados e desencarnados. E ainda foi guardada a seguinte frase, que a Entidade pronunciou no final: “levarei daqui uma semente e vou plantá-la nas Neves onde ela se transformará em árvore frondosa” (ainda se comenta até hoje se o termo Neves que empregou, o foi em sentido figurado, ou se era mesmo no bairro em que o jovem e família moravam.
Nesse dia marcado, na residência de Zélio de Moraes, a Entidade desceu. Lá estavam muitos dos dirigentes daquela Fede¬ ração e outras pessoas interessadas que vieram a saber do acontecimento. Inúmeras pessoas doentes ou disturbadas tomaram passes e muitas se disseram curadas. No final dessa reunião o Caboclo das Sete Encruzilhadas ditou certas normas para a sequência dos trabalhos, inclusive: — atendimento absolutamente gratuito; roupagem branca, simples, sem atabaques sem palmas ritmadas e os cânticos seriam baixos, harmoniosos.
A esse novo tipo de Culto que se formava nessa noite, a Entidade deu o nome de UMBANDA, que seria “a manifestação do espírito para a caridade”. Posteriormente reafirmou a Leal de Souza que “Umbanda era uma linha de demanda para a caridade”. Também nesse dia 16 foi fundada uma Tenda com o nome de Tend Espírita Nossa Senhora da Piedade, porque, segundo as palavras dessa Entidade: — “Assim como Maria acolhe em seus braços o Filho, a Tenda acolheria os que a ela recorressem, nas horas de aflição”.
Segundo testemunhas idôneas, ainda nessa mesma noite, baixou um preto-velho auxiliar, de nome PAI ANTÔNIO, um por¬ tento de sabedoria e de força espiritual.
Daí em diante as sessões seguiram nas normas estabelecidas, apenas com algumas praxes doutrinárias do Espiritismo de Kardec, por força da época e das circunstâncias, as quais foram, depois, sendo adaptadas à realidade da Umbanda. Assim, em 1913. o médium Zélio de Moraes recebeu mais um reforço excepcional com a presença de uma Entidade que se fez chamar de ORIXÁ MALÉ, um Caboclo, que tinha a Ordem e os Direitos de Trabalho para a cura dos obsedados e para os desmanchos de Magia Negra.
Transcorridos os anos, entre 1917 e 18, o Caboclo das Sete Encruzilhadas recebeu ordens e assumiu o comando para a fundação de mais SETE Tendas, que seriam uma espécie de Núcleos Centrais, de onde se propagaria a Umbanda para todos os lados. Oportunamente, numa sessão de desenvolvimento e estudos, o Caboclo das Sete Encruzilhadas escolheu sete médiuns para fundarem os novos Templos, que assim ficaram constituídos:
Tenda Nossa Senhora da Guia, com Durval de Souza, que veio a se fixar na Rua Camerino, 59, Centro, Rio.
Tenda Nossa Senhora da Conceição, com Leal de Souza, da qual não conseguimos o endereço antigo e certo.
Tenda Santa Bárbara, com João Aguiar, que não conseguimos o antigo endereço.
Tenda São Pedro, com José Meireles, que veio a se fixar num sobrado da Praça 15 de Novembro.
Tenda de Oxalá, com Paulo Lavois, que veio a se fixar na atual Av. Presidente Vargas. 2.567, Rio.
Tenda São Jorge, com João Severino Ramos, que veio a se fixar na Rua Dom Gerardo n 45, Rio.
Tenda São Jerônimo, com José Álvares Pessoa, que veio a se fixar na Rua Visconde de Itaboraí n9 8, Rio.
Com o decorrer dos anos, as Tendas começaram a surgir até nos Estados, e assim é que em São Paulo já se contavam 42 unidades, sendo 23 na Capital e 19 em Santos. Já em 1937, as Tendas fundadas pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, na pes¬ soa de Zélio de Moraes, se reuniram e fundaram a FEDERAÇÃO ESPÍRITA DE UMBANDA DO BRASIL, e anos depois passou a se denominar União Espiritista de Umbanda do Brasil, atualmente com sede na Rua Santo Agostinho. 52, em Todos os Santos. Já em 1947, surgiu o “JORNAL DE UMBANDA”, dessa União, que até os anos de 1956 existia, porque chegamos a colaborar nele. Atualmente não sabemos.
Todos esses dados que estamos dando sobre o caso Sete Encruzilhadas foram pesquisados em diversas fontes e ainda de relatos que temos na lembrança, do que nos contava o falecido irmão e grande amigo nosso, Cap. José Alvares Pessoa, da referida Tenda São Jerônimo já referida acima, pois foi um dos maiores incentivadores de nossas obras...
Como frisamos antes, Zélio de Moraes foi um aparelho exemplar; ele e Caboclo se conjugaram numa brilhante Missão, foram vanguardeiros ostensivos que plantaram as primeiras se¬ mentes da reação e do protesto doutrinário, contra as práticas fetichistas das matanças e dos sacrifícios a Divindades etc. Desde o princípio Zélio aprendeu e reafirmava sempre, a última vez em 1972, quando disse axativamente: — “Cumpre acentuar que, na Umbanda implantada pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, não é utilizado o sacrifício de aves e de animais, nem para homenagear entidades, nem para desmanchar trabalhos de magia”.
Nessas alturas não poderíamos também deixar de destacar na História da Umbanda o valor de um de seus grandes vultos. Ele não foi daquele tipo de umbandista que vivia apenas nos bastidores manobrando apenas os cordéis dos interesses pessoais. Ele provava a sua fé, a sua sinceridade e o seu amor à Umbanda, quando era realmente necessário.
Estamos nos referindo àquele que foi o Deputado, o Radialista e o Escritor Attila Nunes (pai), falecido em 27 de outubro de 1968. Ele criou e manteve o Programa “Melodias de Terreiro”, mais de 20 anos, até a sua morte (o programa continuou com Bambina Bucci e o filho).
A primeira coisa que nos surpreendeu na dignidade desse umbandista, foi uma entrevista que havia dado à “Revista do Rádio” lá pelos idos de 1966; na capa ele se apresentava com um livrinho nosso nas mãos, bem visível para se ler: “Lições de Um¬ banda na palavra de um preto-velho”...
Depois, em 1967, tivemos a oportunidade de atuar na TV RIO e na TV TUPI, no Programa “SHOW SEM LIMITE” de J. Silvestre, onde tivemos que debater também o “affaire” Arigó X Umbanda. O caso esquentou, e ele imediatamente fez contatos conosco, para trazer, não apenas o seu apoio moral, de boca. nos bastidores ou no sigilo de seu gabinete, mas sim, pondo a nossa disposição o seu Programa (que usamos) e passando, de pronto, a escrever na sua coluna “Gira de Umbanda”, da “Gazeta de Notícias”, vários artigos destemerosos e vibrantes, debatendo o caso Arigó e ressaltando a nossa atuação na TV e para ilustrar o leitor lembraremos rapidamente o citado caso.
As Revistas “O Cruzeiro” e “Manchete”, de vez em quando, publicavam reportagens (diziam até que encomendadas) sobre os poderes da mediunidade do Arigó. Até aí, nada com a Umbanda, de fato e de direito.
Porém, nas fotos do Arigó, mostravam sempre do lado dele, um grande cartaz com os seguintes dizeres, bem visíveis: — “Kardecismo, sim! Umbanda e macumbas que não curam e causam doenças e loucura, não!”...
Nos Programas de TV, mostramos as Revistas e desafiamos o Sr. Arigó (falecido em acidente de automóvel, anos depois) a que viesse provar, de público, tal afirmação. Claro que não veio. E foi um deus-nos-acuda, Foi um tal de pressões em cima do pobre Matta e Silva que só vendo. Mas, acabou mandando um enviado, um Sr. Prof. Alexandre, que embrulhou e nada também provou. A coisa ficou muito quente mesmo e.. . “forças ocultas” mandaram esfriar o caso, nesse programa. Então, nos retiramos.
Nessa ocasião, também contamos com o apoio direto e pessoal de um grande umbandista (que lá compareceu, de corpo presente), um valioso irmão de fé, o Dr. Landi, que quase brigou de verdade com um representante do Arigó. O Dr. Francisco Landi é um desses umbandistas sinceros que sempre se impôs pela dig¬ nidade e pelo amor à Umbanda.
Mas, com esse simples relato, o leitor talvez não alcance a repercussão que teve na ocasião, dentro do meio umbandista. Mas, o que desejamos também frisar é que a maioria dos que se diziam e ainda se dizem líderes da Umbanda, não deram um pio... ficaram de boca fechada até hoje. Ah! Esses fariseus de todos os tempos...
Por essa e por outras é que estamos destacando esses vultos umbandistas e agora, particularmente o de Attila Nunes (pai). Ele não vacilou nessa hora, de escrever duro e dizer o que sentia. E nós não vamos deixar de registrar o que foi a sua atuação nesse caso, em diversos artigos, não que pretendamos com isso ressuscitar elogios, não! Mas para que suas palavras possam servir de exemplo aos vacilantes e aos modernos umbandistas. Como exemplo, eis somente um de seus artigos, de 8/10/1967, com o seguinte título:
“‘GIRA DA UMBANDA”,
ATTILA NUNES
W. W. DA MATTA E SILVA UM MESTRE, UM AMIGO
MUITA GENTE de nossa "banda” tem se apresentado na televisão. Chefes de terreiros, presidentes de Federações, representantes de Confederações, dirigentes de organizações, grupos de médiuns paramentados com suas nunangas, suas guias etc. A presença desses irmãos nas apresentações televisionadas, nem sempre tem oferecido motivos para merecer o aplauso geral. A participação de alguns de nossos irmãos em determinados programas, especialmente nos de entrevistas (“O Homem do Sapato Branco" e outros), tem sido, de um modo geral, um fracasso.JA VI muita bobagem, muita tolice, já assisti coisas na televisão que até hoje me fazem estremecer pelo total “non sense" dos participantes. Indivíduos despreparados, cidadãos sem a mínima base de conhecimento da religião de Umbanda no seu aspecto doutrinário e científico, pessoas, enfim, sem o traquejo para o diálogo, sem o preparo mental e psicológico para o debate, sem a mínima prática para falar em público e até mesmo sem a cultura que se faz necessária para as dissertações ou para responder aos entrevistadores da TV, têm comparecido a alguns programas e as tolices que proferem, só têm contribuído para o demérito da nossa Religião.MINHA decepção (e a de milhares de irmãos umbandistas) é total quando vejo um presidente de uma entidade federativa ou um chefe de tenda (programa “O Homem do Sapato Branco”, “Caso Isaltina” etc) gaguejar, titubear, e, finalmente, ser derrotado num debate ao qual não devia ter comparecido jamais. Sinto-me triste, fico desanimado quando vejo um babalaô com seus filhos se exibindo na televisão (ou nos campos de futebol), dançando para uma platéia de leigos, desmoralizando a Umbanda (ou o Candomblé) com a amostragem de alujás, de “incorporações”, com demonstrações (na TV) dos nossos rituais, com tudo aquilo que jamais deveria ser exposto em público, isto é, fora dos nossos templos, dos nossos terreiros.MAS não tem sido somente nos programas de entrevistas que tenho visto (e ouvido) coisas de estarrecer. A Umbanda tem sido maltratada, tem sido castigada, tem sido amesquinhada, também, nas chanchadas da senhora Dercy, nos “shows” do Chacrinha e até mesmo em alguns programas do meu prezado amigo Raul Longras. A gozação é uma constante: é “saravá” pra qui, “saravá” pra li, saravá pra lá, estremecimentos, re- bolamentos, baforadas de charutos, “arueiras de São Benedito” etc. Anarquizam a Um¬ banda, zombam da nossa gente, chacoalham a nossa liturgia, satirizam os nossos hᬠbitos, debocham dos nossos babalaôs, dos nossos médiuns, criticam as nossas normas de trabalho, achincalham as incorporações das nossas entidades, fazem, enfim, uma verdadeira bagunça com a nossa religião.REGISTRO, ainda — com profunda tristeza — a inconsciência de alguns companheiros que, com suas exibições na TV, acarretam males terríveis à nossa Umbanda. Muito sofremos, perdemos muitas vitórias conquistadas pela nossa Umbanda ao longo destes últimos 20 anos, têm-se diluído, vêm-se transformando em derrotas com as exposições de vaidade de certos chefes e malungos, com o exibicionismo de alguns irmãos nossos, com a mania de determinados cavalheiros (desejosos de fazerem seu cartaz a qualquer preço) de se projetarem, de se fazerem notados, de criarem uma popularidade a toque de caixa. Por tudo isso, jamais darei meu apoio a sonhos mirabolantes, jamais concordarei com exibições na televisão e combaterei, até o último instante de minha vida, os desfiles nos palcos ou nos estádios de esporte.NÃO SOU radical no meu ponto de vista contrário à exteriorização dos nossos rituais. Não chego ao ponto de achar que devemos nos aprisionar em nosso abassás. Reconheço que não podemos ficar adstritos exclusivamente ao recesso dos nossos terreiros. Não somos prisioneiros, não somos fanáticos, pesamos na balança do bom-senso os nossos atos, as nossas ações. Nossos bacuros, nossos trabalhadores, não vivem maniatados, não são escravos. Não impomos — em nossa religião — os rigores que são impostos aos frades, às freiras, aos pastores, aos batistas, aos budistas etc. Ao contrário, somos livres, praticamos o culto dentro de normas bastante liberais e até mesmo mais evoluídas do que as de outros cultos, de outras crenças.SOU inteiramente favorável (e venho estimulando há 20 anos) às reuniões nas praias no dia 31 de dezembro, acho imprescindíveis as peregrinações às matas (macaias), preconizo, constantemente, a necessidade de seguirmos os nossos preceitos com rigor; devemos manter os velhos hábitos, devemos fazer as nossas obrigações; nossos assentamentos, devemos ir à cachoeira, à praia e até mesmo (quando necessário) devemos ir à Kalunga Pequena (Cemitério), ao Cruzeiro das Almas, à Kalunga Grande (Mar). Devemos salvar Olokum, Aloxum, Dandalunda, Inaê Mabô, Yemanjá, Janaina, as Yaras etc. Devemos entregar os nossos padês, nossos ebós, nossas oferendas, nossas “mesas”, nossos “barcos”, em suma, devemos continuar umbandistas como foram nossos pais e nossos avós. É nosso dever mostrar a nossa convicção mantendo as nossas tradições e tudo aquilo que herdamos dos nossos antepassados.SOU totalmente favorável ao exposto linhas acima, já que — no cumprimento sincero de nossas obrigações — náo há o mínimo resquício de vaidade, náo há exibição nessas atividades, nesses preceitos que fazemos fora dos nossos terreiros.W. W. DA MATTA E SILVA, o renomado escritor umbandista, o autor de numerosas obras dentre as quais destaco o recente livro “Doutrina Secreta da Umbanda”, compareceu à televisão. Sua presença no grande programa de J. Silvestre, “Show Sem Limite”, marcou mais uma vitória para a nossa Umbanda. Valorizou a nossa crença, revigorou as nossas convicções, reforçou as bases do grande templo umbandista re¬ presentado por cerca de 80.000 Tendas espalhadas em todo o País.MATTA E SILVA enfrentou as câmaras da TV Rio com dignidade, com respeito, com energia, com profundo conhecimento de causa, com o destemor dos guerreiros indómitos. Ressaltou o poder da crença umbandista. Reafirmou sua fé. Não titubeou, não gaguejou, argumentou com firmeza, com consciência, em linguagem simples e, ao mesmo tempo, erudita. Fez-se compreender pelos leigos, pelos irmãos de fé e por todos os que tiveram a felicidade de vê-lo e ouvi-lo no famoso “Show Sem Limite”.ESTOU quase certo de que o insigne escritor e Tatwa W.W. DA MATTA e SILVA está de acordo com os meus pontos de vista no que tange às exibições de terreiros nos palcos ou nos estádios esportivos. O querido mestre Matta e Silva (que é rigoroso em suas apreciações sobre a prática do umbandismo) é, sem dúvida, uma das vozes mais autorizadas, é um arauto do bom-senso, é um malungo a quem devemos prestar a nossa homenagem e, sobretudo, devemos respeitá-lo, devemos respeitar (mesmo que às vezes discordemos de um ou outro ponto) a sua pregação que sabemos sincera. Nosso dever é ouvi-lo atentamente, devemos ler os seus livros com a certeza de estarmos ouvindo a voz de um mestre. Devemos nos curvar respeitosamente diante do seu ta¬ lento, de sua cultura, dos seus profundos conhecimentos da Umbanda como religião, como filosofia e como ciência.HOMENS como W. W. da Matta e Silva, João de Freitas, Henrique Landi Jr„ Cavalcanti Bandeira, Pena Ribas, Mauro Rêgo Porto e João Guimarães deviam ser convocados, de vez em quando, para nos proporcionar aulas de umbandismo, para fazerem pregações de alto nível como a que ouvimos segunda-feira última na TV Rio. Os depoimentos, as considerações, as explicações que esses autênticos lideres podem nos oferecer diante das câmaras e microfones, viriam desfazer a má impressão deixada por alguns cidadãos que tanto diminuíram a Umbanda quando de suas aparições no horrível programa “O Homem do Sapato Branco” e nos entreveros sobre o “affaire” Isaltina e seu parceiro Sebastião Pedra d’Água (Bolha d'Agua como disse nosso Irmão Aranha).As grandes vozes têm que ser ouvidas. Lutemos contra a mediocridade, contra a palhaçada, contra a bisonhice, contra os vaidosos, contra os exibicionistas! Ergamos uma muralha invencível contra os destruidores da Umbanda! Utilizemos o poder dos nossos Guias, usemos as nossas forças espirituais para deter a onda de insensatez que ameaça nossa Religião! Não podemos manter uma posição contemplativa diante das tolices arquitetadas pelos vaidosos, pelos fariseus, pelos "profiteurs” da ingenuidade de alguns que se aliam a tudo sem medir as conseqüências. Acima de tudo, a nossa gloriosa Umbanda! ACIMA DE TUDO A DIGNIDADE DA NOSSA CRENÇA, DOS NOSSOS IRMÃOS, DE TANTOS QUE DÃO TUDO DE SI PELO BEM DE TODOS!Parabéns!!! Attila Nunes. Afastemos os marginais da UMBANDA. Conte Conosco, para o que der e vier. MANOEL ARANHA — CORONEL GAMELIEL DE OLIVEIRA — FLÁVIO COSTA — HENRIQUE LANDI.
Também, nessa história, merece destaque o segundo (*) livro que saiu, já em 1939, com o título de UMBANDA, do confrade João de Freitas. Essa obra foi, não resta dúvida, a segunda da literatura umbandista propriamente dita. João de Freitas fez um bom trabalho, para o início e para a época.
Depois, surgiu em 1941. de Emanuel Zespo, “Codificação da Lei de Umbanda”, outro bom livrinho, como um ensaio de coordenação. Logo a seguir veio o do Prof. Lourenço Braga (um saudoso amigo, já falecido) com o título de “Trabalhos de Umbanda e Quimbanda”, de 1946 e outros mais, dele. Esses livros pecaram pela base, pois deram margem a uma série de confusões e distorções incríveis, dado aos seus conceitos e interpretações. Lourenço Braga criou uma 7 Linhas de Umbanda, com Orixás e Santos, subdivididas em mais 49 sub-Santos, com japoneses, mongóis, chineses etc. Levantou um conceito sobre EXÜ, de chifre e pata de bode, com tridente e tudo mais, à semelhança do Diabo da mitologia da Igreja Católica, dando margem ao enriquecimento dos santeiros fazedores de estátuas. Até hoje em dia, se vê o resultado dessa literatura, nas Casas de artigos de Umbanda e Candomblés, e nas tronqueiras de incontáveis terreiros de Umbanda popular e nas macumbas. Cada estátua representa ou é um “Exu”...
Também em 1954 apareceu “O Evangelho da Umbanda” do Mestre Yokanan, cujo principal mérito foi afirmar que “Umbanda não é africanismo”. No resto não chegou a definir nada do esotérico e do histórico da Umbanda...
Depois de João de Freitas e Emanuel Zespo, surgiu também “Antologia da Umbanda”, do já citado Attila Nunes. (Essa obra deve ser lida por todo umbandista estudioso, pois, Attila Nunes teve o cuidado e o desprendimento de selecionar nela tudo que achou de melhor para ilustrar o meio umbandista.'» A seguir, Cavalcante Bandeira e J. Alves de Oliveira com seu “Evangelho na Umbanda” (1970). Um bom livro; uma tentativa de introduzir no meio umbandista a doutrina kardecista...
E assim foram surgindo dezenas e dezenas de escritores de Umbanda e centenas de livros. Num ou noutro, ainda se aproveita alguns conceitos, porém, na maioria, só vieram adicionar mais confusão e distorções aos menos esclaredos. Essa é, a nosso ver, a verdade dos fatos na história da Umbanda do Brasil, que merece nosso registro...
E ainda. Aproveitando o espaço para uma explicação: — falam e falam de Espiritismo de Umbanda (o que é absurdo, errado: um sistema difere do outro). Registram terreiros com denominações de Centro ou Tendas Espíritas de Umbanda, e muitas vezes acrescentam um nome de um Santo Católico.
Espiritismo de Umbanda e Espírita de Umbanda, além de serem chocantes, pecam pela ignorância. Que nos perdoem a franqueza...
O termo Espírito é tão antigo quanto os mais antigos livros sagrados de todas as religiões do mundo. Portanto, é eclético. Porém, espírita e espiritismo são termos particularizados pela Corrente Kardecista. Antes de Kardec, não nos consta haver registros desses dois termos. O sufixo ismo foi empregado para dar extensão no termo espírito (espírito+ismo), para qualificar a Doutrina de Kardec, assim como o de espírita, para qualificar ao que fosse adepto ou o praticante dessa dita doutrina.
Outros sim: — quando pregamos a Umbanda Esotérica, pes¬ soas até de certa cultura entendem que tem ligação com “O Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento”.. . Santo Deus meu!... Vejam um Dicionário, gente...: — Esotérico significa a coisa, — o sistema, que é interno, selecionado, verdadeiro, e exútérico, a coisa, — o sistema que é externo, público, popular...
Vamos repisar: — a base esotérica ou interna da Umbanda, é de caráter iniciático. Contém e revela os conhecimentos mais profundos e autênticos de seu Sistema religioso, filosófico, meta¬ físico, mediúnico e astral-espirítico, além da aplicação correta dos ritos secretos da Magia Superior...
E a base exotérica ou externa é aquela outra parte, ligada a esse sistema de cima, que se forma ou se formou, pelo produto da mística na vivência popular (diz-se assim: a Umbanda popular), através dos mitos ou das lendas, alimentadas ou traduzidas nos ritos singelos e primitivos, envolvendo crenças, crendices e superstições, tudo com tendência para as sub-práticas da magia, e para o animismo e os mediunismos.. .
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