Assim como no início dos trabalhos do Lar de Frei Luiz, quando seres de várias procedências incorporavam em médiuns, passando men-
sagens em prol da caridade, do amor e da ajuda fraterna, as reuniões de materialização para a cura passaram a contar com colaboradores de
diferentes esferas astrais. Para operar ou mesmo apoiar as atividades com ensinamentos diversos, a fim de fortalecer a harmonia ambiente, se materializam entidades que se apresentam como frades e padres católicos, pretos velhos, índios, budistas, hindus e árabes – como o pradahana Ahmed, que chegou a ser fotografado em 8 de fevereiro de 1969 (ver caderno de fotos). Mestre do pacifismo, o indiano Mahatma Gandhi já foi visto por alguns participantes dessas sessões, bem como
Francisco de Assis.
Mas, em meio a essas experiências que demonstram o espírito ecumênico do Lar fundado por Frei Luiz e Luiz da Rocha Lima, um ser extrafísico vem se destacando, desde 1970, nos trabalhos: Frederick von Stein. No entanto, até que se decidisse colaborar, ajudando muitos na cura de doenças diversas, algumas gravíssimas, seja incorporado no médium Gilberto ou operando materializado, esse alemão desencarnado na Segunda Guerra Mundial passou por um lento e difícil processo de conscientização.
Muitos, em tom de descrença irônica, tentando desacreditar inúmeros trabalhos de cura, perguntam por que se ouve falar de tantos “espíritos de alemães” atuando no Brasil. A história contada por Frederick ajuda a trazer luz a essa questão. Com sua cultura, berço do nazismo, alguns alemães serviram em vida para fortalecer as forças do mal, da guerra, da destruição. Assim, nada mais natural que, ao desencarnar e fazer a sua expiação de culpa, tenham decidido trabalhar no Brasil e em outros locais de graves carências sociais e econômicas. Uma tarefa de aprendizado e doação em prol de sua ascensão em esferas astrais.
É o caso de Frederick von Stein.
A primeira manifestação desse espírito ocorreu em 2 de abril de 1960, em uma reunião de desobsessão, com 13 participantes, na casa de Rocha Lima. De repente, incorporou no médium Alberto Benaion um ser falando alemão. Por sorte, entre os presentes estava Antônio Prodon, que falava alemão fluentemente e pôde entender aquele espírito perturbado que se disse chamar Frederick von Stein. Às gargalhadas, sem ter noção de que já estava morto, pois achava que continuava em sua residência em Berlim, se vangloriava de sua vida desregrada, movida a álcool e relações com várias mulheres, inclusive virgens.
Frederick era o exemplo do que ocorre com muitos que desencarnam de forma abrupta e estão extremamente ligados às coisas terrenas. Ao projetar o desejo inconsciente de continuar vivo como matéria, acabam plasmando a sua volta um cenário “real”, passando um bom tempo iludindo-se, como se continuassem na Terra.
Ao ser doutrinado para que compreendesse sua nova realidade de desencarnado, Frederick reagia, esbravejando: “Vocês têm que saber que estão falando com um nobre alemão e não com um qualquer de raça inferior”.
Em sua segunda manifestação, uma semana depois, discorreria sobre bombardeios cruéis e sobre frentes de batalha na Segunda Guerra. Fazia então o médium se levantar e, em posição militar, saudava o seu amado Hitler. Com a continuidade do trabalho de orientação, porém, começaria a gemer e a chorar, reclamando de uma forte dor no ombro direito, provocada por uma ferida que sangrava. Na terceira incorporação, em 16 de abril, revelaria que os pais e os irmãos tinham sido mortos num bombardeio de Berlim pelos aliados. Ainda remoendo em ódio, afirmava, arrogante: “Os assassinos vão pagar a bestialidade que cometeram”.
Finalmente, em sua sexta manifestação, em 28 de maio, ocorreria a sua conversão, quando pela primeira vez reconheceria que já havia desencarnado. Em meio a avanços e retrocessos, em que elogiava homens como Hitler, Goebels e Goethe – “Eles são os deuses da Alemanha, e cada país tem os seus” –, acabou caindo na realidade que tanto temia e, numa forte crise de choro, aos soluços, disse: “Oh! meu Deus!... Perdoa-me; perdoa-me, oh! meu Jesus!... Perdoa-me a minha maldade!...”
Neste instante, fez com que o médium Benaion abrisse os olhos e, pasmo, observando a sala, afirmou em alemão: “Quero ver!... Quero ver!... Aquilo que não acreditei!... Graças a Deus, é verdade! Sou um espírito e sou livre!” Depois, ao olhar para um quadro de Frei Luiz, gemeu, meio apavorado. Sentindo forte dor na perna direita, fez o médium mancar, quase caindo. Por fim, lavou a cabeça com a água de uma vasilha e disse, firme: “Desejo sair daqui limpo!”
Mais tarde, em junho, voltaria a incorporar no médium e, constrangido por ainda não poder falar a língua do Brasil, afirmou: “Preciso aprender português, a fim de que possa narrar todas as cenas que tenho observado e passado na vida espiritual”. Em seguida, dirigindo-se para Rocha Lima, completou: “Virei narrar muitas coisas e trarei muitos presentes para você, Luiz”.
Os integrantes do grupo só voltariam a ter notícias de Frederick em 7 dezembro de 1967, quando Frei Luiz, em voz direta pela trombeta, avisou que seria necessário que o médium Gilberto se preparasse, mantendo-se calmo, porque “um irmão” que fora “um grande médico” na Terra queria trabalhar agora na espiritualidade, mas estava encontrando “uma certa dificuldade” para manifestar-se.
Era uma época em que Gilberto, então com seus 26 anos, sentia fortes dores na perna direita. Dores que já o acompanhavam há anos, sem que conseguisse identificar a origem. “Era uma dor que eu não aguentava. Tinha que levantar, doía a perna”, recorda. A partir dessa reunião de dezembro de 67, o próprio Rocha Lima também passaria a sentir dores nos músculos e tendões da perna direita. Por fim, na
sessão de materialização de 15 de fevereiro de 68, a entidade que se autodenomina padre Zabeu responderia em voz direta, pela trombeta, que as dores eram provocadas pela presença de Frederick.
Gilberto lembra que, em uma reunião na casa de Rocha Lima, recebeu o espírito do médico alemão, que, já falando em português, pediu desculpas pela dor na perna que sentia. “O Frederick falou que a missão dele era comigo, e que sempre que eu sentisse aquela dor, pedia perdão, mas era uma identidade espiritual para se incorporar em mim.” Em seguida, irrompeu uma dor tão intensa, que ele desmaiou. “A dor foi tanta que cheguei a me urinar. Um negócio terrível. Aí, eu apaguei.”
Isso ocorria pela aproximação dos campos eletromagnéticos de Frederick e Gilberto, provocando no médium a assimilação das dores que o alemão ainda sentia, preso às vibrações energéticas do seu ferimento físico antes de desencarnar.
Frederick demoraria até 17 de outubro de 1970 para começar a operar efetivamente no Lar de Frei Luiz, seja incorporado em Gilberto ou materializado, com auxílio básico do ectoplasma desse médium de efeitos físicos. Sempre mancando da perna direita, como relata Rocha Lima, jamais usou qualquer bisturi ou instrumento cortante para fazer suas cirurgias extrafísicas. Com o uso da força mental e ectoplasmática, opera basicamente por processo de desintegração atômica de tumores e de outras partes enfermas do doente.
Mais tarde, no final de 1972, Frederick começaria a dar mais detalhes sobre a sua morte em sua última encarnação na Terra, o que explicaria seu problema na perna direita. Médico pesquisador e oficial do exército alemão, havia matado muita gente. Numa noite, depois de uma dessas pesquisas macabras, se dirigia para a sua casa, com autoridades do III Reich, quando seu carro foi alvejado pela aviação aliada. O jeep em que estava capotou, e ele foi jogado dentro de um pântano com a perna direita estraçalhada. Falando em voz direta pela trombeta, ele explicou seu terrível desenlace:
– Sofri, meus irmãos, quase dois dias, jogado num pântano! Minha maleta com medicamentos estava longe, não podendo eu dar termo a meus sofrimentos, pois continha injeções de cicuta. Com uma pequena dose, eliminaria minha vida, desencarnando. Sofri três longos dias com a perna gangrenada por ferimentos a bala, no pântano.
Ao falecer, ele enfrentaria um longo e tortuoso aprendizado. Atendido por seres de luz, acabaria informado que teria que ajudar crianças carentes para se regenerar, promovendo cirurgias espirituais no Lar de Frei Luiz. Dessa forma, segundo suas palavras, teria a oportunidade de passar por uma “verdadeira escola de amor e de carinho, para que pudesse aprender técnicas que hoje aplico nas desmaterializações e materializações, processos que só poderão entender quando para aqui vierem!”.
Revisado e compilado por Márcio Varela
(Extraído do livro Os Médicos do Espaço: Luiz da Rocha Lima e o Lar de Frei Luiz / Ronie Lima. – 6ª edição)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comentários não terão reflexo mediante o objetivo da página.