A Santa Inquisição invadira as terras lusas em 1536, cobrindo-as de luto, disseminando o vento da hipocrisia, matando e destruindo famílias, sem que estas, pelo menos, tivessem o direito de se defender. Quem denunciasse qualquer movimento suspeito aos tribunais, obtinha grande recompensa, e ainda mais, tinha absolvidos todos os seus pecados, mesmo que fossem os "mortais".
Portugal era atacada pelos agentes das Cruzadas, agora vestindo a sotaina negra da inquisição. Eram os mesmos Espíritos retomando à Terra, para novos planos de educação. Uma cruz coletiva era o emblema do povo lusitano e Portugal recebia, por misericórdia, falanges e mais falanges de judeus e sírios, e, certamente, muitos grupos de todo o Oriente, como sendo a escória da sociedade, para novas etapas de soerguimento, através da perseguição pelos tribunais inquisitoriais, nas pessoas de crianças, velhos indefesos e mulheres. O destino fez com que fossem perseguidos sem complacência pelos homens que se intitulavam Santos Inquisidores. Na verdade, não havia injustiça, pois tanto perseguidos como perseguidores eram do mesmo naipe, pertencendo aos mesmos assalariados do pecado. De tempos em tempos os inquisidores desencarnavam e voltavam à carne novamente, para serem perseguidos e, com o mesmo ferro que feriram fossem feridos, pois esta é a lei, que não perde nem um til.
Torquemada, o tentáculo negro do Santo Ofício, estende sua nefasta influência também a Portugal, e cria tribunais nas mais eminentes cidades da nação. E os reis, temendo o ódio do clero, mancomunaram-se com ele, favorecendo a ação dos sacerdotes. Em todos os departamentos do Estado era feito levantamento completo, cadastrando todos os filhos da Nação, para saber onde se escondiam os hereges, as pessoas de ideologias diferentes da que apresentava a religião oficial. Todas as fichas eram estudadas pelos tribunais da
inquisição; os julgamentos eram independentes dos tribunais do Governo, que ajudava em algumas informações. Quase trinta mil pessoas eram queimadas em fogueiras; mulheres, torturadas em praça pública ou mortas nos porões infectos, outros, enforcados, a maior parte, refugiada e inúmeros que se achavam soltos, nada mais poderiam fazer na vida, pois lhes faltavam os órgãos mais indispensáveis. Tanto na Espanha, quanto em Portugal, as orelhas e línguas cortadas diariamente enchiam balaios e eram atirados aos cães, já viciados nesse alimento incomum.
Em compensação, no decorrer de três séculos a nação lusa teve instantes de alívio quando, pela fé de seu povo, a crença em Antônio de Pádua aumentava cada vez mais, principalmente na capital, a ponto de ter ele passado a ser chamado de Antônio de Lisboa. A crença nesse místico fazia com que aumentasse a esperança dos prisioneiros e permitia que seus débitos fossem resgatados com mais suavidade. A fé, mesmo cega, proporciona bons momentos às criaturas. A condição de domínio do clero atacou a nobreza de Portugal, e o Marquês de Pombal, quando foi aprisionada e torturada pessoa de sua família, revoltou-se e, reagindo, abalou as colunas da Inquisição. Arregimentou forças e destruiu grande parte dos homens sem
sentimentos; no entanto, eles eram muitos e reorganizaram-se, agora, mais cautelosos nas suas investidas.
Os autos de fé eram uma calamidade sem precedentes, e as tachas de azeite efervescente faziam tremer os homens mais corajosos. Enquanto a política voltava seus olhos usurários para o Brasil recém-descoberto, os inquisidores tomavam conta da nação lusa, tendo como instrumento D. João III, em quem o medo atrofiou os sentimentos, levando a razão a concluir que tudo aquilo era um bem para a coletividade, permitindo assim que essa praga grassasse por todo o país. Os hereges eram ervas daninhas na lavoura da Pátria e havia necessidade de arrancá-las pela raiz. Ao ser sustado o funcionamento dos tribunais inquisitoriais na Espanha, por algum tempo, aliviou-se também a situação em Portugal; porém, a lei de ação e reação não deixou que se estabelecesse a paz. Ainda existia um resto de cobrança nos bancos das consciências, e alguns passos ainda deveriam ser dados pelas criaturas, nos caminhos cruciantes da dor. A Inquisição avançou mais, e o Santo Oficio, já agonizante, entrou no século dezenove, quando foi suspenso por lei, não obstante permanecer ainda atuante, pela força dos sacerdotes.
A secular manutenção de poderes em Roma provocou inevitável explosão, gerando poderes menores. Eram países e mais países se libertando do jugo da Águia, estados e mais estados que faziam parte da Unidade Romana se libertando, buscando a independência. Fracionou-se o Gigante em frágeis partes, porque esqueceu-se que não pode existir unidade sem Amor. A violência e a força, com o espaço e o tempo se dividem, desunindo-se como verdadeiros inimigos. O Amor, somente ele, força poderosa que o Cristo nos legou, ensinando-nos como adquiri-lo, se revigora cada vez mais, avolumando-se no tempo e no próprio espaço. Foi essa ciência divina que o apóstolo querido, como João e como Francisco, veio ensinar aos homens, dando exemplos com a própria vida, renunciando a tudo que possuía em bens materiais, a fim de que estes pudessem circular em favor de todos, unindo as nações, aliviando os povos e permitindo que a felicidade beijasse os corações sofredores. Eis que isso era o Cristo de novo na Terra.
Do início das Cruzadas até a Santa Inquisição, desta à escravidão, e até os nossos dias, são igualmente mil anos em que Satanás há de ficar solto, numa refrega de que fazem parte bilhões de Espíritos. E dessa jornada extravagante, quantos entenderam que o melhor caminho é o do Amor? Muitos, no entanto, milhares deles, ou talvez a maior parte, terão que desocupar a casa como inquilinos que não pagaram o aluguel. Serão despejados para casas piores; como negociantes que não recolheram tributo ao governo, terão seladas as suas portas. Mas as experiências valeram; as lições imprimidas em suas mentes pela estratégia da lei de ação e reação, pelo ódio que alimentaram e a vingança que exercitaram por muitos anos, provaram, pelas experiências, que não compensa o Mal. E no raiar do terceiro milênio, os arrependidos ficarão para herdar a Terra, onde vai haver paz, tranquilidade e trabalho suavemente feliz. Aqueles a quem as bênçãos da evolução garantirem a posse do solo da Terra, pagarão ceitil por ceitil o fogo que acenderam e os distúrbios que causaram; todavia, a paz íntima conquistada pelos reveses da vida, tributar-lhes-á forças, no afã de resistirem a todos os tipos de problemas, com ânimo e alegria, por estarem conscientizados do dever maior: amar a seus semelhantes em todas as direções da existência.
Enquanto o homem medieval corria atrás do ouro como ponto único de obsessão, enquanto as nações matavam sem pensar nas consequências para acumular os bens terrenos, enquanto todos os povos amontoavam rações e mais rações para que a fome não os visitasse, Francisco de Assis trazia para eles uma mensagem diferente, sem carregar ouro ou prata, sem ter duas vestes, sem possuir uma pedra na qual pudesse reclinar a cabeça. O alimento que adquiria durante o dia, distribuía à noite para os famintos, e mostrava a excelência dos melhores tesouros e a concentração de todos eles, que era o Amor. Quem quisesse ser o mais afortunado, que amasse mais dentre todos.
Nada há o que se temer das profecias; elas estão se cumprindo e se cumprirão sem que falte um pingo na urdidura da frase, sem que falte um tom no som das palavras; entrementes, ninguém se perderá, pois nada se acabará - Jesus Cristo é o nosso Caminho, é a nossa Verdade e a nossa Vida. Haveremos de passar por Ele para alcançar a vida em profusão de felicidade. A hora é de começar, na distribuição do Bem em todos os caminhos, do Oriente ao Ocidente, do Norte ao Sul, e do Leste ao Oeste. A vida se encarregará de distribuir luzes nos pontos cardeais da coletividade humana, quando essa ficar livre da eira pegajosa que as almas compraram nas lides da ignorância. E, então, surgirão novas Terras e novos Céus, onde haverá justiça e paz, tendo o Amor como base da felicidade.
Compilado do livro Francisco de Assis. Por João Nunes Maia. Espírito de Miramez. Ano 1992.
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