segunda-feira, 30 de junho de 2025

Do efeito de acender velas para as almas


Escrito por W.W. da Matta e Silva (YAPACANI)

É de praxe, nos terreiros, mandar os filhos-de-fé acender velas para as almas, a título de “obrigação”, ou dentro de casa ou no quintal ou também nos cruzeiros do cemitério...

Há anos que vimos assistindo a muitos umbandistas de boa-fé, ou muitos crentes, desses que sempre fazem sua “girazinha” firme no terreiro, viverem debaixo de uma eterna agonia e isso sem saberem porque, não obstante irem a todas as sessões, se descarregar, tomar passes, pedir conselhos e orientações diversas aos mesmos “guias”...

Como admitir isso? Era a queixa que nos faziam de todo lado, pois se estavam sempre falando com pai Fulano, caboclo Sicrano, sem que obtivesse qualquer modificação em sua agonia
ou dificuldade. 

Então, entrávamos com nosso velho sistema de sondagem: que haviam feito sobre trabalhos? — que haviam feito sobre certas firmezas? — que haviam mandado fazer ou afirmar? Aí é que vinha a coisa: tinham feito isso ou aquilo para tal ou qual fim. “Ah! Agora, isto é, há muito tempo que o pai Fulano determinou, “pra nós”, uma “obrigação com as almas”...

“Mas nisso nós “tá correto... num falhamo” ainda uma vez. Toda segunda-feira “nós acende vela” pras almas (ou acendiam sempre dentro de casa, nas varandas ou nos fundos dos quintais) e fazemos nossos pedidos”.

Logo verificávamos que aí estava o “nó” das agonias e das eternas perturbações, dentro e fora do lar, e dos muitos embaraços que sempre aconteciam.

Era então que os aconselhava a suspender tal obrigação com as almas, explicando-lhes direitinho por que estava errada, e logo a situação começava a melhorar e tudo voltava à paz. Isso foram dezenas e dezenas de casos.

Bem. Como se admitir que caboclo e preto-velho, que conhecem como funcionam as atrações negativas e positivas, possam mandar que se façam semelhantes obrigações?

Mas, por quê? Ora, quem acende velas para as almas, dentro do sistema usual de obrigações dado nos terreiros, e geralmente o faz para tudo que é alma) o que pode atrair para dentro de casa? Almas dos aflitos, dos suicidas, dos que passaram a vida distribuindo torturas, fazendo o mal, enfim, só pode mesmo atrair tudo que se possa considerar como “alma penada mesmo”.

Tanto é que elas são chamadas todas as segundas-feiras. Andam por aí, sem sossego, perambulando em busca de uma luzinha ou de qualquer coisa em que “se agarrar”. Aí é que entram a perturbação, a agonia, as complicações para cima do “penitente”. ..

Irmãos, não acendam mais velas para as almas, assim, dentro de casa, nem em lugar nenhum (excluindo disso, naturalmente, os católicos que conservam essa praxe de acender velas para os
seus mortos queridos nos cemitérios); elas nada têm para lhes dar, a não ser muita perturbação. Guia ou protetor de verdade não manda fazer esse tipo de obrigação, porque sabe que isso nunca deu certo.

Quem pode ensinar essas coisas é “quiumba” manifestado ou é o próprio “médium-anímico”, mal influenciado ou mistificado — já o dissemos. 

E, quanto ao acender velas nos cruzeiros dos cemitérios, é outro absurdo, no caso explícito de ser para fins de um benefício ou de uma obrigação que vise a um pedido para tal ou qual objetivo (tornamos a frisar: em relação com as práticas próprias dos chamados terreiros de Umbanda, porque há, conforme dissemos, hábito, entre os católicos, de acender velas para seus entes falecidos, e isso já envolve outros aspectos, nos quais entra apenas a parte emotiva, sentimental, a pretensão de dar luz para seus parentes desencarnados).

Irmãos, os espíritos dos “mortos” que vivem na órbita ou presos a suas campas funerárias se encontram ainda perturbados, inconscientes ainda do estado em que estão, sem luz, sem “caminho astral”...

A esses é que o vulgo chama almas penadas. Com eles ninguém arranja nada de bom, não traz nenhum proveito acender velas para eles.

Deixe-os em paz. Mande dizer preces ou fazer uma “corrente de ajuda” e conforto espiritual para eles no seu terreiro, que é o que mais precisam.

E ainda quanto a acender velas para outras classes de espíritos (Você sabe a que nos estamos referindo) — cuidado, deixe também isso de lado, se é que costuma fazer por sua própria conta...

Exu-Cruzeiro, Exu-Caveira e outros são coisas perigosíssimas, para o leigo lidar.

Não aceite assim, de olhos fechados, que certos “guias ou protetores” lhes mandem fazer esse tipo de “obrigação”.

(Extraído do livro: Umbanda e o poder da mediunidade, por W. W. da Matta e Silva (Yapacani) 2. ed. revista e aumentada. Rio de Janeiro, Freitas Bastos, 1978.)

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